segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Dia 16 - conto baseado em fatos reais


Dia 16
  
            Hoje choveu durante toda à tarde. Sendo assim, passei o dia em casa jogando videogame. Nesses últimos dias ando muito ansioso, afinal, o clube ao qual sou torcedor desde pequeno está no Japão para decidir quem será o melhor do mundo. Já era de se imaginar que passei a tarde toda jogando futebol no meu videogame.
            - É isso... Campeão... É CAMPEÃO...
            - Júnior... Está tudo bem?
            - Desculpe mãe... Só estou jogando...
            - Tudo bem. Venha jantar – Desliguei o meu videogame e fui para a cozinha.
            - Que cara é está filho?
            - Ah, nada não mãe.
            - É seu time né!
            - Sim... Ele está na final.
            - Vai assistir ao jogo aqui em casa né?
            - Queria assistir no bar com meus amigos...
            - Filho... Sabe que não gosto que fique frequentando bares.
            - Tudo bem mãe... Vou assistir em casa.
            - O JÚNIORRR...
            - Ih... Deve ser o Jeh.
            - Jeh? Você quis dizer Jefferson, aquele menino…
            - É mãe, aquele garoto que todos acusam... Eu confio nele.
            - Mas eu não confio... Não quero ver você andando com ele...
            - Mãe... Ele é meu amigo. E tem mais, ele nunca fez nada daquilo que falam dele... Pelo menos não na minha frente.
            - Sei... Olha lá menino...
            - Mãe... Não esquenta... Tô saindo...
            - Aonde vai?
            - Vamos dar um role pelo centro.
            - Não volta tarde menino.
            - Tudo bem mãe.
          Já é meio tradição no nosso grupo dar um role pelo centro da cidade. Observamos o movimento, conversamos, às vezes bebemos ou paramos para comer um dogão em algum lugar qualquer e voltamos para o bairro. Sempre fazemos isso em quase todas as noites.
            - Hei Jeh... Aquele cara está nos marcando a tempo – Diz Juliano.
            - Ha... É... É o Marcão... Vou lá falar com ele.
            - Quem é esse tal de Marcão?
            - Não é ninguém… Só um conhecido… Vou ir falar com ele e já volto.
            - Ok.
            - Julio... Quem é aquele cara sinistro? – Pergunto para Juliano.
            - Não sei cara... Ele disse que era apenas um conhecido.
            - Que estranho...
            - Também achei... – Ficamos observando os dois conversarem. O tal cara estranho começou a discutir com o Jeh e depois disso o cara dá um tapam no Jeh que não esboça nenhuma reação.
            - Que isso cara?... Eles estão batendo nele.
            - Temos que ir lá... Vamos... Vamos – Corremos até o Jeh que se levantou com alguma dificuldade.
            - Galera... Deixa queto... – Disse o Jeh.
            - Quê... Explique-nos por que esse cara tá te batendo?
            - Silêncio... – Pede o tal Marcão – Ouviu né Jefferson. Você tem vinte e quatro horas pra resolver o seu problema. Estamos entendidos?
            - Estou sim...
            - Agora pega a sua rapa e vai embora... – Jeh levanta-se e pediu para irmos embora.
            - Cara... O quê tá acontecendo?
            - Não quero falar – Jeh ficou o caminho inteiro calado. Não disse uma palavra mesmo com a insistência do Juliano.
            Eu sou o que moro mais longe. Pelo caminho ficaram os amigos em suas casas e sobrou apenas eu e o Jeh.
            - Falo cara – Disse o Jefferson.
            - Falo mano... Não quer dizer algo?
            - Melhor você ficar fora disto mano... Té mais...
            Que estranho. O que será que estão cobrando do Jeh? Pensei nisto o caminho todo, mas se ele não quer falar. Agora faltam menos de trinta e seis horas para a final do campeonato. Chegando em frente de casa, minha mãe me esperava.
            - Mãe? O quê faz aqui a está hora?
            - Perdi o sono... Foi tão estranho... Aconteceu algo?
            - Mãe... Está tudo bem... Vai dormir... – Não queria assusta-la com bobagens.
            Novamente passei a manhã toda jogando videogame.
            - FI-LHOO...
            - O que é mãe?
            - Tá quase pronto o almoço... Preciso de um favor seu.
          - Já vou... – Desliguei o videogame e fui ver do quê a minha mãe estava precisando - O quê quer mãe?
            - Vai até e mercearia para comprar um refrigerante. Toma aqui  o dinheiro.
            - Tá bom... Vou lá rapidinho... – Pelo caminho passei em frente à casa do Jeh e encontrei o mesmo no portão.
            - E aí mano... Indo na mercearia? – Ele perguntou-me.
            - Sim... Vamos lá?
            - Ah... Melhor não...
            - Cara... Você está estranho desde ontem... O quê está acontecendo?
            - Melhor não se meter... É problema meu...
            - Aquele cara... Mano... Aquele cara está te cobrando algo...
            - Cara...
      - Mano... Você não confia em mim... Somos amigos e sempre te defendi. Fale o quê está acontecendo...
            - Tá bom... Vou ali no bar com você...
            - Fala aí mano... O quê está acontecendo?
            - Aquele cara... Eu estou devendo pra ele?
            - Devendo? Grana?
            - Sim...
            - Grana do quê?
            - Cara... É grana de drogas e eu não tenho como pagar.
            - Não acredito cara... Eu sempre te defendi... Quê mancada sua...
            - Desculpe cara... Desculpe-me.
            - Não sei se deve... Tenho que pensar... Amanhã conversamos.
            - Tudo bem... Disse Jeh e virou-se de costas e caminhou em direção a sua casa. Logo após isto            ele resmungou – Amanhã pode ser tarde demais...
            Não entendi bem o significado de tais palavras. Minha cabeça quente não me deixou raciocinar naquele momento. Devia ter me preocupado mais com ele. Enfim, fui até a mercearia e seu Carlos me recebeu bem, como sempre.
            - Fala garoto. Só o refresco hoje?
            - Sim... É amanhã, hein...
            - Amanhã o quê moleque? Seu time vai perder...
            - Vai nada... Você vai ver.
            - Vai vir aqui amanhã? – Seu Carlos é torcedor de outro time, mas não é bobo. Amanhã ele abrira a mercearia na hora do jogo. Sabe que vai encher.
            - Talvez... Té mais seu Carlos.
            A minha ansiedade não passava. Foi assim durante a tarde e a noite. Como foi difícil dormir.
            Mal abri os olhos de manhã cedo e já fui ligar a televisão. A ansiedade era tão grande que já estava roendo as unhas.    
E começou o jogo. Vai ser um jogo muito difícil, pois o time adversário é melhor e tem muito mais craques. No começo o jogo estava equilibrado, mais depois da metade do tempo regulamentar, o outro time passou a dominar o jogo. Veio o segundo tempo e a emoção e a tensão aumentava até que...
- GOLLLLLLLLLLLLL... – Não acredito. Que golpe de sorte. Foi gol. Meu coração parecia que ia escapar pela boca.
- Que alegria filho...
- É mãe... Queria ver a cara dos meus amigos agora... Todos estão no bar...
- Ah filho... Então  vai lá vê como eles estão.
- Posso mãe?
- Pode sim... Mas não demore.
- Tá bom... – Fui correndo até o bar. Estava uma festa só. Todo mundo estava lá, menos eu e o Jeh. O jogo acabou e comemoramos o título juntos. Algum tempo depois o seu Carlos fechou o bar e ficamos ali na frente comemorando com os amigos. Em seguida o Jeh chegou. Eu ainda estava chateado com ele então não puxei assunto com ele.
- Ih galera... Não disse que nosso time ia vencer...
- Oh o cara... Até esses dias ele torcia pros camisas verdes... Então o quê fez mudar de ideia seu vira casaca?
- Todos sabem que este time é o melhor. Aí aparece os vira casacas... – Diz outro dos meus amigos.
Todos tiraram uma na cara do Jeh, menos eu, que continuei a manter seriedade com ele. De repente começou a chover e isto nos prendeu ali na frente do bar do seu Carlos. Ficamos ali conversando por algum tempo até a chuva começar a passar.
Minha mãe, sem que eu soubesse, observava-me conversando com os meus amigos. Até que um estranho cara aproxima-se do bar parando em frente ao mesmo.
Minha mãe não vê, mas ele sacam uma arma e faz uma pergunta.
- Quem é Jeh? – Bateu um desespero em mim e resolvi correr.
BLAMMMMMM – Ouve um disparo. O tiro foi certeiro. Cai no chão e de lá vejo que o Jeh ergue as mãos por sobre a cabeça, como se tivesse se entregando. Jeh olhava-me com uma cara triste, de frustração. Arrependido...
- Tá maluco cara? – Disse Jeh para o atirador.
- Ele correu deve ser o tal Jeh...
- Você está enganado... Eu sou o Jeh
- O quê!... – O cara aponta a arma novamente e ouve outro disparo...
BLAMMMMM – Jeh foi atingido em cheio e cai de joelhos. Os atiradores fogem. Jeh cai no chão e olha para mim, como se pedisse desculpas. Mas é tarde para ele e sinto que é tarde demais pra mim também.
Escuto a voz desesperada de minha mãe, meus amigos e da mãe do Jeh. Sinto-me fraco...
Começa então a chover novamente e fico imaginando tudo o quê eu estava vivendo. Todas as alegrias...
16 de dezembro de 2012 era pra ser somente um dia de alegrias e sem querer dei a maior das tristezas para minha família...


                                                                                   FIM!

“Dia 16” é baseada em fatos reais.

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