Dia 16
Hoje choveu durante toda à tarde. Sendo assim, passei o
dia em casa jogando videogame. Nesses últimos dias ando muito ansioso, afinal,
o clube ao qual sou torcedor desde pequeno está no Japão para decidir quem será
o melhor do mundo. Já era de se imaginar que passei a tarde toda jogando
futebol no meu videogame.
- É isso... Campeão... É CAMPEÃO...
- Júnior... Está tudo bem?
- Desculpe mãe... Só estou jogando...
- Tudo bem. Venha jantar – Desliguei o meu videogame e
fui para a cozinha.
- Que cara é está filho?
- Ah, nada não mãe.
- É seu time né!
- Sim... Ele está na final.
- Vai assistir ao jogo aqui em casa né?
- Queria assistir no bar com meus amigos...
- Filho... Sabe que não gosto que fique frequentando
bares.
- Tudo bem mãe... Vou assistir em casa.
- O JÚNIORRR...
- Ih... Deve ser o Jeh.
- Jeh? Você quis dizer Jefferson, aquele menino…
- É mãe, aquele garoto que todos acusam... Eu confio
nele.
- Mas eu não confio... Não quero ver você andando com
ele...
- Mãe... Ele é meu amigo. E tem mais, ele nunca fez nada
daquilo que falam dele... Pelo menos não na minha frente.
- Sei... Olha lá menino...
- Mãe... Não esquenta... Tô saindo...
- Aonde vai?
-
Vamos dar um role pelo centro.
- Não volta tarde menino.
- Tudo bem mãe.
Já é meio tradição
no nosso grupo dar um role pelo centro da cidade. Observamos o movimento, conversamos,
às vezes bebemos ou paramos para comer um dogão
em algum lugar qualquer e voltamos para o bairro. Sempre fazemos isso em quase
todas as noites.
- Hei Jeh... Aquele cara está nos marcando a tempo – Diz
Juliano.
- Ha... É... É o Marcão... Vou lá falar com ele.
- Quem é esse tal de Marcão?
- Não é ninguém… Só um conhecido… Vou ir falar com ele e
já volto.
- Ok.
- Julio... Quem é aquele cara sinistro? – Pergunto para
Juliano.
- Não sei cara... Ele disse que era apenas um conhecido.
- Que estranho...
- Também achei... – Ficamos observando os dois conversarem.
O tal cara estranho começou a discutir com o Jeh e depois disso o cara dá um tapam
no Jeh que não esboça nenhuma reação.
- Que isso cara?... Eles estão batendo nele.
- Temos que ir lá... Vamos... Vamos – Corremos até o Jeh
que se levantou com alguma dificuldade.
- Galera... Deixa queto...
– Disse o Jeh.
- Quê... Explique-nos por que esse cara tá te batendo?
- Silêncio... – Pede o tal Marcão – Ouviu né Jefferson.
Você tem vinte e quatro horas pra resolver o seu problema. Estamos entendidos?
- Estou sim...
- Agora pega a sua rapa
e vai embora... – Jeh levanta-se e pediu para irmos embora.
- Cara... O quê tá acontecendo?
- Não quero falar – Jeh ficou o caminho inteiro calado.
Não disse uma palavra mesmo com a insistência do Juliano.
Eu sou o que moro mais longe. Pelo caminho ficaram os
amigos em suas casas e sobrou apenas eu e o Jeh.
- Falo cara – Disse o Jefferson.
- Falo mano... Não quer dizer algo?
- Melhor você ficar fora disto mano... Té mais...
Que estranho. O que será que estão cobrando do Jeh?
Pensei nisto o caminho todo, mas se ele não quer falar. Agora faltam menos de
trinta e seis horas para a final do campeonato. Chegando em frente de casa,
minha mãe me esperava.
- Mãe? O quê faz aqui a está hora?
- Perdi o sono... Foi tão estranho... Aconteceu algo?
- Mãe... Está tudo bem... Vai dormir... – Não queria
assusta-la com bobagens.
Novamente passei a manhã toda jogando videogame.
- FI-LHOO...
- O que é mãe?
- Tá quase pronto o almoço... Preciso de um favor seu.
- Já vou... – Desliguei o videogame e fui ver do quê a minha
mãe estava precisando - O quê quer mãe?
- Vai até e mercearia para comprar um refrigerante. Toma aqui o dinheiro.
- Tá bom... Vou lá rapidinho... – Pelo caminho passei em
frente à casa do Jeh e encontrei o mesmo no portão.
- E aí mano... Indo na mercearia? – Ele perguntou-me.
- Sim... Vamos lá?
- Ah... Melhor não...
- Cara... Você está estranho desde ontem... O quê está
acontecendo?
- Melhor não se meter... É problema meu...
- Aquele cara... Mano... Aquele cara está te cobrando
algo...
- Cara...
- Mano... Você não confia em mim... Somos amigos e sempre
te defendi. Fale o quê está acontecendo...
- Tá bom... Vou ali no bar com você...
- Fala aí mano... O quê está acontecendo?
- Aquele cara... Eu estou devendo pra ele?
- Devendo? Grana?
- Sim...
- Grana do quê?
- Cara... É grana de drogas e eu não tenho como pagar.
- Não acredito cara... Eu sempre te defendi... Quê
mancada sua...
- Desculpe cara... Desculpe-me.
- Não sei se deve... Tenho que pensar... Amanhã
conversamos.
- Tudo bem... Disse Jeh e virou-se de costas e caminhou
em direção a sua casa. Logo após isto
ele resmungou – Amanhã pode ser tarde demais...
Não entendi bem o significado de tais palavras. Minha
cabeça quente não me deixou raciocinar naquele momento. Devia ter me preocupado
mais com ele. Enfim, fui até a mercearia e seu Carlos me recebeu bem, como
sempre.
- Fala garoto. Só o refresco hoje?
- Sim... É amanhã, hein...
- Amanhã o quê moleque? Seu time vai perder...
- Vai nada... Você vai ver.
- Vai vir aqui amanhã? – Seu Carlos é torcedor de outro
time, mas não é bobo. Amanhã ele abrira a mercearia na hora do jogo. Sabe que
vai encher.
- Talvez... Té mais seu Carlos.
A minha ansiedade não passava. Foi assim durante a tarde
e a noite. Como foi difícil dormir.
Mal abri os olhos de manhã cedo e já fui ligar a televisão.
A ansiedade era tão grande que já estava roendo as unhas.
E começou o
jogo. Vai ser um jogo muito difícil, pois o time adversário é melhor e tem muito
mais craques. No começo o jogo estava equilibrado, mais depois da metade do
tempo regulamentar, o outro time passou a dominar o jogo. Veio o segundo tempo
e a emoção e a tensão aumentava até que...
-
GOLLLLLLLLLLLLL... – Não acredito. Que golpe de sorte. Foi gol. Meu coração
parecia que ia escapar pela boca.
- Que
alegria filho...
- É mãe...
Queria ver a cara dos meus amigos agora... Todos estão no bar...
- Ah
filho... Então vai lá vê como eles estão.
- Posso mãe?
- Pode sim...
Mas não demore.
- Tá bom...
– Fui correndo até o bar. Estava uma festa só. Todo mundo estava lá, menos eu e
o Jeh. O jogo acabou e comemoramos o título juntos. Algum tempo depois o seu
Carlos fechou o bar e ficamos ali na frente comemorando com os amigos. Em
seguida o Jeh chegou. Eu ainda estava chateado com ele então não puxei assunto
com ele.
- Ih
galera... Não disse que nosso time ia vencer...
- Oh o
cara... Até esses dias ele torcia pros camisas verdes... Então o quê fez mudar
de ideia seu vira casaca?
- Todos sabem que este time é
o melhor. Aí aparece os vira casacas... – Diz outro dos meus amigos.
Todos
tiraram uma na cara do Jeh, menos eu, que continuei a manter seriedade com ele.
De repente começou a chover e isto nos prendeu ali na frente do bar do seu
Carlos. Ficamos ali conversando por algum tempo até a chuva começar a passar.
Minha mãe,
sem que eu soubesse, observava-me conversando com os meus amigos. Até que um
estranho cara aproxima-se do bar parando em frente ao mesmo.
Minha mãe
não vê, mas ele sacam uma arma e faz uma pergunta.
- Quem é
Jeh? – Bateu um desespero em mim e resolvi correr.
BLAMMMMMM –
Ouve um disparo. O tiro foi certeiro. Cai no chão e de lá vejo que o Jeh ergue
as mãos por sobre a cabeça, como se tivesse se entregando. Jeh olhava-me com
uma cara triste, de frustração. Arrependido...
- Tá maluco
cara? – Disse Jeh para o atirador.
- Ele correu
deve ser o tal Jeh...
- Você está
enganado... Eu sou o Jeh
- O quê!...
– O cara aponta a arma novamente e ouve outro disparo...
BLAMMMMM –
Jeh foi atingido em cheio e cai de joelhos. Os atiradores fogem. Jeh cai no
chão e olha para mim, como se pedisse desculpas. Mas é tarde para ele e sinto
que é tarde demais pra mim também.
Escuto a
voz desesperada de minha mãe, meus amigos e da mãe do Jeh. Sinto-me fraco...
Começa
então a chover novamente e fico imaginando tudo o quê eu estava vivendo. Todas
as alegrias...
16 de
dezembro de 2012 era pra ser somente um dia de alegrias e sem querer dei a
maior das tristezas para minha família...
FIM!
“Dia 16” é baseada em fatos
reais.